quarta-feira, 23 de junho de 2010

Nem Freud entende

Como é possível no país mais democrático do mundo o candidato com o maior número de votos populares não ser eleito? Isso aconteceu nas eleições de 2000 nos Estados Unidos. Os candidatos eram o ex-presidente George W. Bush e o ex-vice presidente Albert Gore.

No dia 7 de novembro de 2000 mais de 100 milhões de americanos foram às urnas para escolher o Presidente da República. Nas horas seguintes, as grandes redes de televisão divulgaram notícias equivocadas, nas quais os dois candidatos se proclamavam vencedores. Até o dia 12, os Estados Unidos continuavam sem saber quem seria o futuro governante, se George W. Bush, o governador do Texas e candidato do Partido Republicano ou Albert Gore, vice-presidente dos Estados Unidos e candidato do Partido Democrata.

Imagem: Reprodução


Votos da Flórida decidiram o voto de Bush: polêmica

George W. Bush foi o escolhido, ele, o candidato com o menor número absoluto de votos foi eleito.
Nesse caso, como é que estaria sendo respeitada a vontade da maioria?

O site historianet públicou na época uma explicação sobre o sistema eleitoral americano.

O PROCESSO ELEITORAL NOS ESTADOS UNIDOS

Nos Estados Unidos a disputa presidencial é indireta, pois a rigor, o eleitor não escolhe seu candidato à presidência. Os eleitores de cada Estado votam numa lista de delegados comprometidos com uma das candidaturas. Esses, em número proporcional à população de cada Estado, formam o Colégio Eleitoral, composto de 538 delegados, ao qual caberá escolher o Presidente da República. Em cada Estado, a chapa que obtiver a maioria simples dos votos populares ficará com os votos de todos os delegados (menos em dois Estados pequenos - Maine e Nebraska), tornando-se vitoriosa a candidatura que obtiver 270 votos ou mais.

Nessas eleições levantou-se suspeitas de que houve fraude no Estado da Flórida. Por conta de uma lei estadual que exige a recontagem dos votos quando a diferença for inferior a 0,5%, foi pedida a recontagem dos votos na Flórida. Na primeira contagem o candidato democrata obteve 1.785 votos a menos que Bush, num universo de 6 milhões de eleitores. Segundo dados não oficiais da agência "Associated Press", uma segunda contagem automática nos 67 condados do Estado, reduziu a diferença para 327 votos.

Outro ponto vulnerável, diz respeito às cédulas eleitorais, que nos Estados Unidos não são padronizadas. O modelo de algumas cédulas da Flórida, como as do condado Palm Beach, levou eleitores de Gore a votar no candidato do inexpressivo Partido da Reforma, o ultraconservador Pat Buchanan, que de fato apresentou um desempenho superior ao esperado. Além disso, cerca de 19 mil votos foram anulados em Palm Beach por dupla votação, equívoco que poderia ter sido provocado por eleitores que tentaram corrigir os votos após perceber que não haviam votado no candidato de sua preferência. A raiz desses dois problemas, está na tradição de autonomia, que desde os primórdios sempre esteve presente na história dos Estados Unidos. Esse excesso de autonomia para os Estados pode começar a ser revisto em alguns aspectos, após essas eleições.

Existe ainda a questão dos eleitores da Flórida residentes no exterior. Estimados em 2 mil votos, foram enviados pelo correio e serão considerados válidos se chegarem até o dia 17. Sobre essa questão incidiria um outro problema, já que os votos pelo correio, que poderão revelar-se decisivos, seriam considerados suspeitos, se vindos de um país sem tradição democrática.

Foto: Divulgação


"Oh, tão apertado", "É Bush", "É Bush?" e "Contestada".
As manchetes acima foram publicadas nas sucessivas edições do Orlando Sentinel, da Flórida, em 8 de novembro de 2000.


O QUE PODE ACONTECER APÓS UMA SEMANA DE IMPASSE?

No dia 13 de novembro, o Partido Democrata pediu a recontagem manual em cinco condados da Flórida, incluindo Palm Beach, onde o comitê eleitoral anunciou que iria recontar manualmente os 462.657 votos. A decisão foi tomada após a recontagem de 1% das cédulas, na qual o comitê acrescentou 33 votos a Al Gore e 14 a George W. Bush. Se a proporção fosse estendida para o total de cédulas do condado, o democrata Gore venceria a eleição. As autoridades locais concluíram que isso poderia alterar os resultados do Estado. Os republicanos pediram a suspensão da recontagem na Justiça Federal.

Se mesmo solucionado esse impasse, nenhum candidato obtiver a maioria mínima de 270 delegados no Colégio Eleitoral, a eleição é transferida para o Congresso, onde o Senado elegeria o vice-presidente e a Câmara dos Deputados, elegeria o presidente, por um sistema simples de votação, atribuindo um voto para cada bancada estadual.

Mas como foi visto, o presidente Bush e o seu vice Dick Cheney, fizeram seus juramentos de fidelidade à Constituição no dia 20 de janeiro e tomaram posse de seus cargos. Muito se foi discutido sobre o resultado dessas eleições pelos órgãos de imprensa. Mas após quase nove meses do mandato de Bush tudo foi esquecido.

Quando, em 11 de setembro, aconteceu o ataque terrorista organizado pela a Al Qaeda, toda a imprensa se esqueceu do que havia acontecido nas últimas eleições e se concentrou apenas em melhorar a imagem do presidente Bush e incentivar a população a apoiar todas as ações ministradas pelo então presidente, inclusive às invasões ao Afeganistão e ao Iraque, que não trouxeram nenhum benefício para a população americana.

Por Hévilla Wanderley

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