sábado, 19 de junho de 2010

Al-Jazeera, a história da rede que revolucionou a mídia árabe

Foto: BH-News
Estúdios da Al-Jazeera, emissora catariana: revolução no jornalismo árabe

A Al-Jazeera surgiu em 1996 após a rede de televisão inglesa BBC, com o intuito de criar uma variante árabe do seu teor internacional, se juntou à emissora saudita Orbit Communication. Mas como o reino da Arábia Saudita não entrou em consenso com o serviço de notícias da BBC sobre a independência editorial, os investidores preferiram retirar seus investimentos e desfazer o pacto.

Sem investimentos, a BBC árabe faliu e o emir (o equivalente árabe a príncipe) do Catar, Hamad bin Khalifa Al Thani, contratou os jornalistas que foram treinados pela emissora inglesa para compor uma rede de TV independente, já que a maior parte da impressa árabe é controlada pelo governo. Essa foi uma de suas maiores reformas.

A emissora obteve um sucesso instantâneo entre o público árabe, que nunca havia visto reportagens sobre os próprios assuntos de uma maneira diferente da tradicional das TVs do mundo árabe. Isso pode ser observado no posicionamento da emissora frente ao conflito Israel-Palestina, quando a Al-Jazeera entrevistou oficiais Israelenses e foi a primeira a exibir um judeu israelense falando hebraico na TV árabe.

Se entre os árabes o que a tornou conhecida foi o conflito na Palestina, a guerra no Afeganistão foi o que a tornou conhecida no resto do mundo. Em fevereiro de 2000, o regime Talibã convidou a CNN americana para instalar um escritório no país, mas a rede não aceitou o convite. A Al-Jazeera, ao contrário, manteve contato e fontes com o regime e com a população afegã, o que facilitou a cobertura em 2001.

Nesse ano, quando mostrou as passeatas populares contra a ocupação norte-americana no Afeganistão e o vídeo onde Osama Bin Laden, o homem acusado de planejar o atentado às torres gêmeas no fatídico 11 de setembro de 2001 se pronunciando quanto aos acontecimentos, a emissora Al-Jazeera se tornou conhecida na mídia mundial como “a voz do mundo Árabe”.

Os Estados Unidos não gostaram da abordagem da Al-Jazeera e tentaram invalidar o discurso da emissora declarando que esta quer dar voz ao Talibã e Al-Qaeda e fazer uma propaganda contra a campanha americana no Afeganistão. Entretanto artigos de grandes jornais como o New York Times deram crédito à rede pela liberdade de imprensa.

No dia 22 de novembro de 2001, o Jornal inglês Daily Mirror, publicou uma matéria falando sobre a existência de um memorando que relatava um encontro entre o então presidente dos Estados Unidos George Bush e o primeiro ministro inglês Tony Blair, no qual o primeiro ministro tentava fazer o presidente americano não bombardear a sede da Al-Jazeera. Tanto Blair quanto Bush declararam nunca ter havido tal proposta.

Esse fato levantou dúvidas sobre os incidentes anteriores com a rede Al-Jazeera, como um escritório da emissora em Kabul no Afeganistão, ter sido atingido por um míssil americano em novembro de 2001. Na guerra do Iraque em 2003, também houve bombardeios ao escritório da rede Al-Jazeera em Bagdá, onde mataram o produtor Tareq Ayyoub. Autoridades americanas declararam que foi legítima defesa, pois inimigos haviam disparado contra tanques dos Estados unidos perto da sede da emissora.

Toda a trajetória da mídia no Oriente Médio mostra que o Estado e a religião sempre estiveram atados no mundo árabe. Nesse cenário, a Al-Jazeera se mostra importante ao apresentar uma visão mais crítica e isenta do que se passa ao seu redor.


Por Ana Amélia Lima

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