quinta-feira, 24 de junho de 2010

Como a CIA e o governo de Nixon derrubaram Allende

Foto: Divulgação
Multidão aclama o presidente chileno Salvador Allende

O 11 de setembro é sem dúvidas uma data trágica, não só para os americanos, algumas coincidências e muitos anos depois provam que povos diferentes podem ter algumas datas em comum e também certas ligações. Em 11 de setembro de 1973, o governo americano não foi a vítima, mas o causador de uma grande tragédia que aconteceu no Chile: provocou a morte de um presidente democrático e colocou no poder o homem que viria a ser o mais sangrento ditador da América Latina, Augusto Pinochet.

Em 8 de setembro de 1973, as Forças Armadas do Chile comandadas pela CIA, estavam a poucos dias do golpe de Estado, que há muito tempo era planejada pela agência americana. Como disse Henry Kissinger, “Bem, o golpe no Chile já está em marcha!”. Kissinger presidiu entre 1969 e 1976 o "Comitê 40", uma organização de caráter semi-clandestino de ligação entre a Casa Branca e a CIA para desestabilizar governos que não estavam de acordo com os interesses norte-americanos.

Ao meio dia de domingo, dia 9 de setembro de 1973, Allende pediu a Pinochet que traçasse um plano de emergência para o que estava a acontecer, no caso, o golpe. O presidente pretendia lançar um referendo no dia 11 de setembro para que a população decidisse o que fazer, sobre a situação do país. Em paralelo, Jack Devine, agente da CIA encoberto em Santiago, informava a seus superiores sobre o golpe: “Será em 11 de setembro”.

Na noite de 10 de setembro, técnicos testavam conexões para o discurso de Allende sobre o plebiscito, para ser transmitido por uma cadeia de rádio e televisão na manhã seguinte. Do outro lado da rua, técnicos do lado golpista faziam o mesmo, mas com outro objetivo.

Salvador Allende Gossens, foi um político desde o começo de sua vida, dividia os estudos em Medicina na Universidade do Chile com as preocupações sociais, comunista desde sempre, vibrou em 1959 com o sucesso da revolução cubana. Senador já naquela época tirou fotos famosas entre Ernesto “Che” Guevara e Fidel Castro. O que não agradou nada aos Estados Unidos, naquele auge da Guerra Fria. Pois Allende já havia se candidato duas vezes à presidência da Republica no Chile, e vinha crescendo a cada eleição.

Mais uma eleição, mais outra candidatura, Allende agora estava na mira dos americanos e eles não vacilariam como fizeram em Cuba. Em 1964 a CIA entregou pelo menos três milhões de dólares para a campanha presidencial do democrata-cristão Eduardo Frei Montalva, que concorria com Allende. Allende perdera pela terceira vez, mas não perdera novamente seu otimismo. Candidatou-se novamente em 1970. Com a sua candidatura e a criação no ano anterior do Comitê 40 vieram varias “ações encobertas”, ou seja, clandestinas para sabotarem um governante democrata, que tinha formação comunista.

Em 25 de março de 1970 o Comitê 40 aprovou um primeiro financiamento de 125 mil dólares para “operações de sabotagem” contra Allende. De 1970 a 1973 estas “ações encobertas” contaram com orçamentos de quase nove milhões de dólares. Mesmo assim em 4 de setembro 1970, Allende foi eleito com 36.3 % dos votos contra 34.9% de Jorge Alessandri, o candidato da direita, e 27.8% do terceiro candidato, Radomiro Tomic. Ele ainda precisava da votação do Congresso, já que não tinha conseguido mais de 50% da votação.

Foto: Divulgação
Allende, sentado ao lado do presidente cubano Fidel Castro

E o Congresso votou em outubro daquele ano, e como resultado, 153 votos a favor Allende, outros 35 foram para Alessandri e tiveram sete abstenções. Allende tomou posse em 3 novembro de 1970, para desespero do presidente Nixon. O diretor da CIA, Richard Helms, disse anos depois que Nixon, então presidente americano, temia perder o Chile, como Kennedy havia perdido Cuba.

No primeiro ano do governo de Allende, o desemprego baixou 4%, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 8,5% e melhorou a distribuição de renda. Mas o governo americano ordenou “é para fazer a economia chilena uivar de dor”, então começou a espalhar o terror apavorando empresários, fazendo-os reduzir a produção. Muitos profissionais paralisaram seu trabalho enquanto recebiam dinheiro da CIA e de multinacionais americanas que tinham sido prejudicadas com estatização de Allende. O Comitê 40 aprovou a entrega de cem mil dólares a organizações empresariais, em outubro de 1972. Tudo de forma clandestina.

Como se tudo isso não bastasse, em meados de 73, a Casa Branca decidiu apertar ainda mais o Chile. Nada funcionava: greves de motoristas, paralisação de comerciantes, protestos de colégios e escolas técnicas, manifestações contra e a favor, gás lacrimogêneo nas ruas, bombas, e “apagões”. A CIA e empresas multinacionais norte-americanas financiavam grevistas com cifras superiores a 200 mil dólares.

Neste estado de calamidade, o comandante-em-chefe do exército, o general Carlos Prats, foi alertado sobre “movimento suspeito” de golpe militar e também foi vítima de um complô da CIA que pretendia tirá-lo do seu cargo, já que ele era um grande defensor da Constituição. A situação se complicava dia após dia, e Prats não resistiu, renunciou em 23 de agosto de 1973. Como novo comandante-em-chefe do exército, o presidente Allende designou o general Augusto Pinochet, que não despertara suspeitas jamais de Allende ou sequer de Prats, que o recomendara.

Depois de grandes traições e provas de lealdade, o dia 11 de setembro de 1973 foi marcado pelo fúnebre som dos aviões de guerra e pelo rumor das hélices dos helicópteros, mostrava que era o começo do fim. Pinochet após a indicação para ser o principal comandante do exército chileno, ao lado da CIA, comandou todo o golpe que se realizaria neste fatídico dia.

Já eram quase 11h da manhã quando surgiram os primeiros disparos do lado de fora do palácio do governo chileno, o La Moneda. Allende estava lá dentro com os seus mais fiéis companheiros, e de lá não tencionava sair. Às 11h52min caiu a primeira bomba no palácio, seguida de outras mais. A destruição começava a crescer no local, junto com um incêndio que escurecia o céu com a fumaça negra que vinha do La Moneda.

Às 13h20min, o presidente disse que era hora de se render, fez com que todos saíssem de mãos abertas, deixando-se por último, entregou a um de seus fiéis amigos a Ata da Independência do Chile, para que fosse salva do incêndio, mas esta não foi salva de um soldado que a rasgou assim que eles saíram do palácio.

Mas Salvador Allende não se rendeu, ele voltou ao salão da Independência e gritou que não se rendia. Pegou uma pequena metralhadora. O barulho era tanto que não deu para ouvir os disparos, só alguém que gritava que o presidente estava morto.

Por Hévilla Wanderley

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